Publicado em 07/03/2024 - 10:51 Por Cristiane Ribeiro - Repórter da Rádio Nacional - Rio de Janeiro
Os números da violência contra a mulher assustam! Para se ter uma ideia da gravidade desse cenário, ao longo do ano passado, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência a cada dia, apenas nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
Ao todo, 3.181 brasileiras registraram queixas, o que representa um aumento de 22% em relação ao ano anterior.
Também em 2023, foram registrados 586 feminicídios, o que significa que a cada 15 horas houve um assassinato motivado por razões de gênero, menosprezo ou discriminação contra mulheres. E, o que é mais gritante: os crimes foram cometidos principalmente por seus ex ou atuais parceiros, na maioria dos casos com a utilização de armas brancas.
Os dados estão na quarta edição do relatório “Elas Vivem”, elaborado pela Rede de Observatórios da Segurança.
Divulgado nesta quinta-feira (7), o novo boletim ampliou a área de monitoramento.
A mestre em Ciências Sociais e articuladora nacional da Rede de Observatórios, Bruna Sotero, enfatizou que, pela primeira vez, o Pará está entre as regiões mapeadas, ocupando a quinta posição no ranking entre os oito estados onde mais se matam mulheres.
Segundo ela, no contexto da Região Amazônica, as desigualdades sociais e o garimpo agravam essas dinâmicas violentas.
Os dados mostram, ainda, São Paulo como o único estado a ultrapassar mil eventos de violência contra a mulher em 2023, contra 898 no ano anterior. Em seguida vem o Rio de Janeiro, que passou de 545 para 621 notificações, no confronto ano a ano.
Mas, a maior taxa de crescimento foi verificada no Piauí: quase 80% na violência de gênero na passagem de 2022 para 2023, com alta de 113 para 202 registros.
Já o Ceará é o principal em transfeminicídios, ou seja, assassinato de travestis e mulheres transexuais por razão de gênero. De acordo com o estudo, foram sete casos no ano passado. Já o Maranhão lidera os crimes de violência sexual e estupro, com 40 ocorrências.
Ainda segundo Bruna Soreto, o objetivo da produção desses dados é fazer com que os registros de violência contra mulheres sejam nomeados e classificados corretamente para ajudar o poder público a enfrentar essa realidade.
Na avaliação da educadora social e escritora, Marcelle Oliver, esses números seguem em alta porque as mulheres estão mais empoderadas e se encorajam a fazer a denúncia. Marcelle fundou, em 2018, o Instituto “Avança Nega” que dá acolhimento psicológico e acompanha mulheres negras vítimas de violência em áreas periféricas do Rio de Janeiro.
Segundo ela, os relatos mostram que as agressões acontecem porque os homens veem a mulher como um objeto e a violência é impulsionada principalmente por ciúme, frustração no trabalho e pelo uso de bebida alcoólica e outras drogas.
Marcelle acredita que esse cenário só vai mudar com a aplicação de punições mais severas aos agressores.
Pela legislação brasileira, desde março de 2015, o feminicídio é considerado crime hediondo, com penas de 12 a 30 anos de prisão. Este tempo, no entanto, pode ser aumentado em um terço se a vítima estiver grávida ou nos três meses após o parto.
Edição: Vitória Elizabeth/ Marizete Cardoso